Amor

Quando perguntam: O que nós levamos da vida? Qual a sua religião?

De onde viemos, para onde vamos, e porque passamos por aqui? Quando começo a pensar nisso, fico louca!

Tem coisas que realmente não podemos questionar, como uma situação que você acaba criando na vida,

ao invés de se perguntar como tudo aconteceu, e porque, devemos mesmo é pensar em um jeito de sair,

seja a situação incomoda que for.

Aí penso: de tudo que passei, o que ficou foram as lembranças doces, o calor que eu sinto pelas pessoas

que amo. Como da infância doce com meus pais, irmãos, avós, amigos, passeios... Das deliciosas descobertas

da adolescencia, primeiro beijo, primeiro cinema de mãos dadas, primeira vez que saí livre, e viajei com

os amigos, primeiro porre, primeira paixão, primeiro namorado, primeira vez, primeira viagem a dois,

primeiro "eu te amo", passar no vestibular, andar pela primeira vez no campus da faculdade sentindo

o maior orgulho de fazer um curso maneiro e merecer aquele lugar maravilhoso, passar em calculo,

fisica e ainda ter muitos desafios pela frente, primeiro emprego e o salário que de tão especial

parece um milhão, sair com amigas tão antigas que sabem até mais que eu, poder ter uma conversa

franca e engraçada com meus pais, sentir um amor e uma energia boa dos irmãos, fazer novos amigos,

fazer alguém sorrir e sorrir junto, se curtir dps de um dia exaustivo seja lendo um livro muito bom

ou assistindo o que quiser com aquela camisa da 8ª série e aquele cabelo mal preso, ter expectativas,

saber que construiu relações sólidas com pessoas espetaculares, ganhar o respeito daquela pessoa que

você admira, passar uma tarde de bobeira com minha sheepdog jogando bola,

passar o dia na praia sentindo o cheiro do mar e a energia do sol tomando

tomando aquele mate com sanduba especial,passar a noite em claro dançando ou conversando sem sentir,

ir pra casa de praia e reencontrar seus amigos de infância que moram longe,

fazer alguém sorrir apesar de uma situação dificil,

sentir arrepios, friozinho na barriga, coração disparado, beijo que se encaixa, reflexões, notícias boas

vindo das pessoas amadas e dos jornais...

As coisas desagradaveis ficam para tras, apesar de terem nos ensinado mais do que as sensações boas.

Então porque devemos nos questionar tanto? Se o que importa, nós levamos para sempre? Nosso corpo

muda, nossas roupas ficam velhas, assim como todos os bens materiais. Mas o amor, esse calor que

levaremos por toda eternidade, fica pra sempre não importa p/ onde iremos.

Essas pegadas eu quero deixar registradas aqui. E se perguntarem, qual a sua religião?Eu responderei

minha religião é o amor.

Outro dia, o William Bonner foi na Marilia Gabriela, e no final disse que "quero" do Carlos Drummond de Andrade

resumia o que ele sentia no dia-dia, na vida. Eu não conhecia, e achei muito lindo. Também sinto isso, me identifiquei.

Quero

Carlos Drummond de Andrade

Quero que todos os dias do ano

todos os dias da vida

de meia em meia hora

de 5 em 5 minutos

me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,

creio, no momento, que sou amado.

No momento anterior

e no seguinte,

como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão

que me amas que me amas que me amas.

Do contrário evapora-se a amação

pois ao não dizer: Eu te amo,

desmentes

apagas

teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.

Não exijo senão isto,

isto sempre, isto cada vez mais.

Quero ser amado por e em tua palavra

nem sei de outra maneira a não ser esta

de reconhecer o dom amoroso,

a perfeita maneira de saber-se amado:

amor na raiz da palavra

e na sua emissão,

amor

saltando da língua nacional,

amor

feito som

vibração espacial.

No momento em que não me dizes:

Eu te amo,

inexoravelmente sei

que deixaste de amar-me,

que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido

Eu te amoamoamoamoamo,

verdade fulminante que acabas de desentranhar,

eu me precipito no caos,

essa coleção de objetos de não-amor.

Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos.

Antoine de Saint-Exupéry