domingo, 24 de outubro de 2010

Clair de Lune

Algumas músicas mexem muito com as emoções, incrível como uma só traz à tona diversas sensações, memórias, até de coisas que não vivemos.




Clair de Lune
Debussy




terça-feira, 19 de outubro de 2010

510 anos de mentira

Nesse mundo precisamos nos adaptar, e nos atualizar sempre, em tudo. Somos muito exigidos, porque o trabalho pesado, os projetos suados ficam sempre nas mãos dos executores. A história mostra todo percurso, com muitos obstáculos, de quem pesquisou a fundo, expôs suas idéias e quis desmascarar e bater de frente com um sistema. Vimos que "calaram" a boca de muita gente boa, quem tinha peito e um raciocínio não corrompido, sumiu misteriosamente. Alguns até mudaram radicalmente seu discurso em prol de sua própria integridade.

Para aliar sua segurança, a continuidade de um projeto honesto e defender suas idéias, a humanidade precisa ser malabarista. Bater de frente é perder energia a tôa, no entanto a ideia de vestir a camisa por uma ideia mesquinha, mas que é facilmente vendida é uma violência. Nosso desafio é sobreviver entre os bandidos demagogos, numa luta onde a paciência é essencial.

Hoje, damos um passo atrás evitando explosões, ouvimos calados todo aquele discurso santo sair da boca dos mais podres, assistimos enjoados o -governo encontrar brechas, mamar com a maior tranquilidade, pessoas despreparadas assumirem cargos, falso tenente-coronel atuar como leonardo di caprio brasileiro, andar nas ruas sem saber quem é policial-policia, policial-bandido, bandido-policial, pessoas votarem na possibilidade de continuidade de um governo que só iludiu, fez de palhaço, comprou com esmola, freou quem poderia realmente mudar, e quer a todo custo alienar as mentes pensantes.

Nos fazemos de planta, rebolamos para não vomitar tudo isso, tem gente que lança filme para tentar passar na censura e não ser metralhado, tem menina burguesa que não aguenta mais nada e usa um blog como válvula de escape, têm pessoas militando, doando um tempo por debaixo dos panos para realmente tentar fazer o bem, um bem, para quem precisa. É, não tem jeito, precisamos dançar conforme a música, e dar um jeitinho brasileiro de gritar, e lutar contra essa podridão toda.

A luta não é contra a igreja, os militares, a política. É contra nós mesmos.

Podem me chamar de ignorante, mas meu voto é nulo.


domingo, 17 de outubro de 2010

Cartas - I

Mais Fernando


Domingo, 29/11/1920

(...)

Quanto a mim...

O amor passou. Mas conservo-lhe uma affeição inalteravel, e não esquecerei nunca - nunca, creia - nem a sua figurinha engraçada e os seus modos de pequeneina, nem a sua ternura, a sua dedicação, a sua indole amoravel. Pode ser que me engane, e que estas qualidades, que lhe attribúo, fossem uma illusão minha; mas nem creio que fossem, nem, a terem sido, seria desprimor para mim que lh'as attribuisse.

Não sei o que quer que lhe devolva - cartas ou que mais. Eu preferia não lhe devolver nada, e conservar as suas cartinhas como memoria viva de uma passado morto, como todos os passados; como alguma cousa de commovedor numa vida, como a minha, em que o progresso nos annos é par do progresso na infelicidade e na desillusão.

Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infancia, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras affeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memoria profunda do seu amor antigo e inutil (...)



Fernando Pessoa



Domingo, 17/10/2010


Quase 80 anos depois, e a descoberta de que certas coisas não mudam, ou são iguais em todos nós. Cartas nos revelam muito , guardam surpresas para o futuro, mostrando toda pureza, esperança e romantismo que talvez não existam mais. Assim como as fotos, são capazes de revelar exatamente o momento vivido, e todos os sentimentos que ele acarretou.

sábado, 16 de outubro de 2010

something in the way...

Estou numa semana muito George Harrison, e descobri que talvez ele seja meu preferido dos beatles. Acordei um dia com "while my guitar gently weeps" na cabeça. Tomei meu café tentando cantar, para lembrar do nome e colocar para tocar. Consegui, com alguns pedacinhos da letra que eu lembrei, (os únicos pedaços da letra que não foram inventados hahaha). Ah, tão bom ouvir, parece que saiu da sua cabeça.

Aí, depois ouvi direto, praticamente em todos momentos que tive uma chance, "something".
Ouvindo a letra, pensei nisso. Naquelas coisas especiais, de cada pessoa que gostamos, aquela marca, coisas que nossos sentidos instantâneamente nos fazem lembrar.

Aquela risada gostosa, aquele olhar vivo-sábio-curioso-ingênuo, o barulho discreto de um certo sorriso, o perfume, o cheiro da pele, do cabelo, um livro, um cd, um lugar, um filme, uma música, voz, uma sobremesa, uma estação...

Ficamos sempre preocupados em prender as pessoas, nessa mania de querer possuir tudo. Mas esquecemos que além de ser impossível, o essencial fica com a gente. Nosso diferencial, a marca que é diferente em todos nesse mundo enorme. Algumas sensações aguçadas pelos nossos sentidos, que não podem ser explicadas, imitadas...


‎"Os ventos que as vezes tiram algo que amamos, são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar... Por isso não devemos chorar pelo que nos foi tirado e sim, aprender a amar o que nos foi dado. Pois tudo aquilo que é realmente nosso, nunca se vai para sempre"


Bob Marley
















Novos ventos

Primavera

Cecília Meireles


A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

domingo, 10 de outubro de 2010

Escolhas

Dificilmente você encontra hoje uma pessoa decidida. É uma confusão geral, muito querer e poucas decisões, objetivos. Essa necessidade de estarmos certos o tempo inteiro, de não termos o direito de errar, acabou gerando trocentos indecisos, postergando a escolha até do que comer no café. Se existe uma coisa boa em ser ansiosa e agitada, é ter sempre uma força me impulsionando a pegar um caminho. Depois me entendo com os resultados, se não forem os esperados. O mais complicado é que esses sem rumos atrapalham nossa vida, se misturam, pegam carona, assistem em cima do muro. Muitas coisas perdem o timing, por causa dessa falta de posicionamento. Hoje fico encantada com quem é objetivo, com quem se expõe, defende uma idéia, é franco. Estamos acostumados a encher linguiça, colocar em banho maria, aceitamos qualquer baboseira como resposta. Até um sincero "não sei" as pessoas não dizem mais. É preferível fazer um discurso vazio, que não nos diz nada.

É ridículo assistir ao debate de candidatos à presidência e não ouvir nenhum projeto consistente. Metas, nada! As unicas respostas diretas são aquelas para agredir o adversário.


Adoro as pessoas, sou compreensiva, tolerante, porque sei das minhas falhas, muitas deles iguais às que crítico tanto nos outros. Mas ultimamente tenho ficado muito impaciente com esses escorregadios. E, para evitar qualquer estresse, quando começam a fazer os rodeios, minha mente se desliga, fica em off "ZzzzzzzzzzzzzZZZZZzzzzz".


Mas ainda vale se expor no meio desses hipócritas ensaboados.

sábado, 9 de outubro de 2010

All my loving

Hoje meu pai e john lennon fazem aniversário. Apesar de meu pai ser infinitamente mais especial, sinto uma coisa parecida nos dois. Esse jeito doce de falar da vida, carregando pelos anos a fora aquele ar de menino sonhador, muita vida, muita esperança. Caí aqui nesse mundo, e logo de cara encontrei os amores da minha vida.






sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Atravessiamo


Assisti "comer, rezar, amar". O livro é delicioso assim como o filme. Estranho como as coisas caem em nossas mãos, nos momentos certos. Senti meu coração todo partido há pouco tempo, e passei por muitos caminhos até decidir por esse agora. Tentei fingir que nada aconteceu, fui humilde, reconheci minha dor, tentei viver um novo amor para apagar aquelas sensações, até chegar à esse lugar que estou, e que me parece ser o melhor até agora, a decisão mais acertada.

Quando tinha 15 anos, fui atropelada. E até isso na minha vida foi um episódio cômico. Fiquei com algumas marcas, mas nada sério me aconteceu. A minha primeira grande lição de como a vida é preciosa. Imagina, uma adolescente cheia de complexos, que tinha acabado de tirar o aparelho fixo e estava encantada com isso, quebrar alguns dentes (manchados de piche de asfalto), e levar 14 pontos na testa. Na época nem me liguei nisso, fiquei toda boba com o carinho e a atenção que minha família e meus amigos estavam dedicando. E sem sentir fui mudando para compensar as marquinhas do Frankenstein... Cortei o cabelo super curto, fiz pela primeira vez a sobrancelha (que era identica a do Ziraldo), me cuidei bem mais...

A cicatriz no inicio doeu a beça, tinha vergonha dela... Depois ela foi começando a sumir, e ficou dormente, até hoje não sinto essa parte direito. Meus dentes, ninguém diz, a dentista fez um trabalho muito bom. Mas a sensação daquele dia, fica até hoje. Saí vitoriosa, como se a vida tivesse me dado outra chance de realizar meus sonhos, meus planos... Como em video game, aquele coraçãozinho com todas as bolinhas do lado.


E todas marcas são assim mesmo né? Consciente ou inconscientemente a gente busca mais nosso crescimento, em outras áreas para compensar aquela dormente.

Pude constatar que só você pode cuidar da sua cicatriz. Chega uma hora que precisamos ser mais responsáveis, e usar alguém, algo ou qualquer substância para curar uma dor, não faz o menor sentido. Quando comecei a prestar atenção na marca que ficou do atropelamento, ela foi diminuindo. Passei muito protetor, hidratante... Esse post tá assim, sacal, óbvio, mas vá colocar em prática. Antes dava vários conselhos para as pessoas... As vezes mesmo sem elas me pedirem. Agora vai perdoar de coração, aceite a porrada sem culpar ninguém, se levante sem uma bengala ou sem apoiar no braço de outra pessoa. Putz, difícil demais. Mas fiz isso. Me senti traída, fiquei revoltada com pessoas no meio profissional que tentam engolir a gente, achei que a vida estava me sacaneando. Mas não segui o caminho clichê, de engatar num romance forçado para me curar de outro, ou para me sentir por cima, consegui me impor sem deixar de ser ética e me contaminar, e por fim organizei toda bagunça depois do vendaval, reconheci que foi causado por mim, e para o meu crescimento, portanto a faxina era de minha responsabilidade. E tudo foi pro seu lugar. É muito bom sentir orgulho, perceber que tudo feito para o bem, de coração deixa a gente em paz. E nos fortalece, principalmente. Hoje, não sinto pena, raiva, muito menos ódio de quem atravessa nosso caminho, e tenta nos derrubar, corromper, trai nossa confiança, as vezes de anos. Eles, assim como eu, você, já sentiram a mesma dor, ou alguma dor. E o que mais precisam agora é de compreensão, luz.


Meus planos agora são conhecer, e reconhecer tudo que puder. Experimentar tudo que meus olhos, meu coração e meu paladar puderem. Praticar mais essa entrega, e aos poucos costurar toda minha coleção de retalhos...


A vida tem trilhões de técnicas para preparar a gente, e me sinto pronta. Hoje faço coisas que estava super travada, como planejar viagens, voltar a correr a noite, fazer meus horários de estudo, ouvir música, leitura, programas fora da rotina. E tudo fluirá a contento, a vida tem dessas coisas, quando paramos de forçar a porta, quando tudo simplesmente te leva pelo simples fato de gostar de viver, pela sede de conhecimento e abertura da mente, as portas se abrem...

"... Faço o melhor que sou capaz, só pra viver em paz"