quarta-feira, 2 de junho de 2010

No Recipe

Desde que nascemos e começamos a fazer parte da sociedade, passamos também a seguir a fórmula, a nos ajustar ao padrão. Todos iguais no início da vida, e os que tiveram oportunidades, seguem a mesma linha. Técnicas ensinadas pelos nossos ancestrais, usadas na nossa fase bebê, quando os dentes começam a crescer, começamos a andar, falar, a nos disciplinar. Entendemos aos poucos alguns riscos no dia a dia, “se proteja, não fale com estranhos, não se exponha, seja discreta, não brinque com fogo, não chegue tarde, não se entregue, observe, raciocine mais, sinta menos, se dedique, tenha certeza, cuide, não magoe, cumpra, sua obrigação é passar de ano, passar no vestibular, estudar e trabalhar, estudar trabalhar e administrar sua vida financeira, encontrar alguém que valha todo próprio tesouro que você cultivou sua vida inteira, cresça...

Só que antes de muita coisa, aliás, logo no começo de tudo, você já se sente uma exceção. Leva alguns tombos, arranca seu dentinho antes da hora, faz exatamente o contrário do recomendado, faz umas recuperações na escola, fere alguém por conseqüência da falta de maturidade – que ainda não chegou, e se chegará mesmo -, se fascina com o fogo, se expõe completamente para estranhos, fala antes mesmo de pensar, age por impulso, é todo sentimento, chega na madruga e acorda 2 horas depois, se entrega ao que arrepia e não ao que vale mais...

Acredito que queremos seguir esse conceito, sinceramente. Nossa consciência pesa quando “saímos da linha”, ou do planejado. Mas sabe aquela cicatriz charmosa que existe em alguma parte do corpo, de bilhões de pessoas? Ela que nos torna únicos. São as histórias inusitadas, a volta por cima, o objetivo conseguido com muito suor, as relações construídas durante anos, aquela gargalhada característica, as conquistas, mancadas, furos, emoções.

Uma vida estruturada é necessária, até mesmo para realizarmos nossos sonhos mais malucos, mas o que faz nossos olhos brilharem e justamente se jogar sem garantias. Nem sempre teremos aquela rede de circo para nos segurar, e justamente por isso ficamos fortes, somos esse resultado. As regras não fazem poesias que emocionam, músicas que encantam, não trazem frio na barriga, brilho na pele, bochechas vermelhas, não nos fazem sonhar, querer o melhor, o bem dos outros, não dão tanto prazer, adrenalina, risadas infinitas...

O grande barato é ter sabedoria, e equilibrar tudo isso, dentro de uma cabecinha só. Responsabilidade, ética, emoção, loucura, aventura. Não acredito em ninguém 100% satisfeito, santo, demônio, irresponsável, louco... Razão e loucura precisam uma da outra, e me alivia muito concluir isso.

Há muito tempo, conversando com uma amiga, muito sábia por sinal, eu perguntei: “ quais são seus planos? Metas...?” (eu e minha curiosidade chata, com tudo) E ela respondeu “ ser feliz, aliás, continuar feliz” E continuou...: “Não importa se eu demorar a conquistar minha independência, se não conhecer alguém, não tiver filhos. Não condiciono minha felicidade, porque ela é simplesmente uma decisão. Se vou viajar, ter sucesso, adotar um filho, conhecer um cara legal, pode acontecer, mas desde sempre vou ser feliz.” Pode ser clichê, sacal, mas nunca vou esquecer. E acho que depois disso, comecei a me permitir mais.








Zeca Pagodinho interpretando Vinícius de Moraes/Baden Powell

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