quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Você é o próprio pequeno príncipe


Li ontem a dedicatória do autor de "o pequeno príncipe" e achei muito legal. Ele dedica o livro para a criança que o amigo dele foi. E isso nunca fez tanto sentido para mim.

E de fato, tenho escrito aqui muito sobre a admiração e a saudade que sinto da infância. E cada vez mais tenho entendido o porque.

Engraçado, porque desde menininha eu sabia que depois de uns anos, teria que guardar minha criança numa caixinha.

Aqueles questionamentos, a curiosidade sobre a funcionalidade da vida, as opiniões discutidas com amigos quase que aos berros, as brincadeiras à qualquer momento, a liberdade no estilo, a espontaneidade, a revolta quando uma árvore ia ser derrubada, a vergonha sentida quando se via um morador de rua passando por muitas necessidades, a amizade feita durante uma brincadeira, a despreocupação com o que o outro tinha ou sabia...


Hoje, as pessoas que vestem a camisa do "gentileza", não são gentis na rua, no trânsito, no restaurante, em casa, no trabalho, com a família... Não se preocupam em criar laços, sorrir de graça, desejar um bom dia, fazer uma piadinha para descontrair...


Sem contar com os adultos, alguns até fazem parte da minha geração. Adultos pedantes, nova elite intelectual, "tentando resgatar" a cultura e a boemia no Rio. Restringindo seu seleto grupo aos que conhecem os romancistas e psiquiatras "do momento", se vestem do mesmo jeito, com iguais hábitos, expressões, gestos, leem, veem, e escutam - não pelo prazer, mas para se diferenciarem dos "ignorantes". Chega a ser engraçado, porque quanto mais forçam, menos se parecem com nossos artistas. Quando as reuniões eram e são feitas por acaso, onde todos trocavam idéias- Pintores, escritores, cantores, arquitetos, advogados, modelos, engenheiros, jornalistas, sem profissões mas com um puta talento. E vinham de vários lugares, com ou sem grana, de todas raças, credos, idades... Muito diferente desses jovens carrancudos, que acham que a arte precisa ser forçada, cercada de pessoas "com conteúdo", excluindo os que "não podem acrescentar". Pessoas que não fazem arte pelo simples fato dela brotar, mas pelo status.


Quando li pela primeira vez "O pequeno príncipe", era criança e uma amiga (que tinha uma visão, que só fui ter depois) me atentou para a parte "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Sinceramente na hora, não saquei nada. Reli aos 16 anos, e chorei em muitos momentos, uma fase que as lágrimas lavavam meu rosto com uma certa frequência. Até que, quando tive um tempo, o dediquei ao reler um livrinho comprado pela minha mãe em 1985, todo coladinho, passando a frente de vários livros: "LE PETIT PRINCE" hahahahahaha!
Nossa, como um livro, escrito de uma forma tão simples, consegue mostrar o essencial, nos
cobrindo de vergonha por ter esquecido de coisas tão simples e importantes. Sei que tirarei mais lições, quando pega-lo para ler de novo.

E realmente, minha querida amiga, somos responsáveis sim por quem nos ama. Aqueles que sentem nossa saudade, se preocupam com nosso bem estar, nos esperam, querem nossa presença só porque alegramos o ambiente delas, torcem e comemoram junto nossa vitória.Temos que regar sempre nossas rosinhas...

E temos também que alimentar nossa criança, perdida em algum lugar nos nossos olhares sobre a vida. Fazer contato sem interesses maiores, entender que apesar de toda diferença somos todos iguais, poder gargalhar, sorrir de graça, brincar, acreditar no mundo, ficar revoltado quando nosso meio ambiente for massacrado, querer a felicidade do outro, questionar, ensinar, ter prazer simplesmente por estar vivo...


“Em cada um de nós há um segredo, uma paisagem interior, com planícies invioláveis, vales de silêncio e paraísos secretos.

"Uma pessoa para compreender tem de se transformar."

“On le voit bien qu’ avec le Coeur. L’essential est invisible pour les yeux.”

Le Petit Prince

Antoine de Saint-Exupéry

Nenhum comentário:

Postar um comentário