terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Relicário





Na definição, "Relíquias, coisas guardadas com valor"

Ontem estava louca procurando uma bolsa, que, por ter mais idade, fica guardada junto com coisas muito antigas (caixas com cartas, fotos, bilhetes, papeis...)

Quando olhei p/ essas caixas, senti na hora uma vontade imensa de pegá-las e me jogar na cama, olhando cada papelzinho - que para quem não viveu é um monte de

lixo- mas para mim são relíquias.

Jogada na cama, olhando e lembrando de tudo dei graças a deus por nunca ter ouvido minha mãe, quando ela dizia para jogar "essa lixarada" fora. É certo de que tenho

feito desse blog um relicário, mas essas coisinhas pequenas são como registros, comprovantes...

Guardo bilhetes de cinema desde 1998, ainda tenho a entrada do Rock'in'Rio, e de todos shows que já fui, cartinhas dos meus pais, desenhos do meu avô, cartas das amigas

na fase menina, na fase adolescente e também na fase adulta, cartões, bilhetes estimando minha melhora quando tirei os cisos, coisas escritas naquele guardanapo de bar (que de tão fino

estão quase rasgando)... Até que peguei um cartão postal, de Londres, mandado pelo meu irmão quando ele soube que eu tinha sido atropelada.

Na mesma hora pensei, faltam duas peças importantíssimas a serem reconhecidas no meu relicário.

Meus irmãos mais velhos, os gêmeos, os escorpianos...

Ao contrário de todos irmãos mais velhos, e até do Maurício, eles sempre me estimularam a viver. Eles eram o barulho da casa, a energia, as risadas altas, as histórias engraçadas,

o centro das atenções. São impulso, carisma, tempestade, emoção, renascimento, sangue quente, carinho, vida... Sempre viveram muito, experimentaram a vida desde cedo,

e, quando eu ia desabafar alguma angustia infantil sempre era confortada com a sabedoria desses jovens vividos. Nada para eles era assustador, ou novo, ou demais...

Eles queriam que eu começasse a namorar mais tarde e saísse mais, me acobertavam e iam buscar de festas que na época eu não era liberada, sempre vinham com mimos - como lanche à qualquer hora

doces, roupas... Tudo sem data especial, apenas porque sou a irmãzinha deles.Me confidenciavam muitas coisas, atribuindo uma maturidade à mim que eu talvez não tivesse.

Essa fervura que é o sangue deles já derrubou algumas coisas, mas nunca o nosso amor.

É um pecado falar deles dois dessa forma, até porque o que o gêmeo mais quer é sua individualidade. Eles nunca tiveram roupas iguais (mãe pedagoga), namoradas,

cortes de cabelo, tatuagens... Mas, vou citar uma história deles pequenos que explica melhor que eu a conexão dos gêmeos: Eles eram muito bagunceiros no colégio, eram impossíveis, e para melhorar

o rendimento na escola e o comportamento deles minha mãe resolveu colocar um estudando à tarde e outro de manhã - Resultado- eles ficaram deprimidos, não queriam brincar, não queriam fazer nada...

Maurício estimulou minha cautela, e eles meu impulso. Isso sim é equilíbrio!!!

No domingo, fiquei com um nó na garganta, queria ter assistido com todos eles o mengão hexa campeão! Falei com o Maurício pelo Skype e ele lembrou que em 92, eles foram assistir no maraca com meu pai, e a arquibancada caiu... Em 2009 cada um assistiu em um canto diferente, mas com certeza em sintonia.

Tenho minhas relíquias reconhecidas aqui, nas minhas caixas, e nas lembranças... Somos frutos delas, como do meio, como de nossos pais, irmãos, amigos, tropeços...

Estou aberta, quero, enquanto viver que minhas relíquias sejam infinitas...

Fabio e Rogério amo vocês!

"Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra. Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora. Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda. Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima. Você é aquilo que reinvidica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia.Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê."

Martha Medeiros

Um comentário:

  1. Olha Lalá vc é a coisa mais linda desse mundo!
    Quanto amor vc tem guardado junto com essas suas relíquias...vc é coração, emoção e te ler me dá um prazer imenso...
    Saudade enorme de vc e triste por não ter estado presente esse ano no nosso almoço...vc me faz muita falta!
    Te amo minha linda!
    Beijos

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